PELA GRAÇA SOMENTE

Ou somos salvos pela graça, ou pelas obras. Como a última alternativa é absurda, resta que somos salvos pela graça. E se é pela graça, é pela graça somente. “Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça”. (Rom. 11:6). Mas parece que a dificuldade de algumas pessoas é definir o que são obras. E por paradoxal que pareça, muitos que dizem acreditar na salvação pela graça somente, acabam se revelando na crença da salvação pelas obras. Não afirmam que é a obediência à lei de Deus que salva. Não chegam a tanto. Mas obra não é apenas obediência ou atos concretos. Jesus disse que se alguém sentir ódio contra seu semelhante já pode ser considerado como um criminoso. Ou se alguém olhar para uma mulher com intenção impura, já cometeu adultério em seu coração. (Mateus 5:22-28). Não apenas o ato em si, mas a intenção de praticar, ou o desejo de vingança no coração, é considerado como um ato praticado, uma ação. Assim também se a salvação depende do querer inerente, da vontade própria do homem, então é por obras. Portanto, crer, ou querer, não pode ser obra do homem, pois, se fosse, ele seria salvo por obras. “Jesus respondeu e disse-lhes: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou”. (João 6:29). Isto Jesus falou aos judeus que queriam realizar as obras de Deus, ou seja, ganhar o favor de Deus por meio de obras. Eles disseram: “Que faremos para executarmos as obras de Deus?” O pensamento deles era executar atos grandiosos, nos quais eles aparecessem como grandes benfeitores, ou como pessoas boas e santas, e, portanto, merecedores da salvação. Jesus respondeu: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que ele enviou”. Ou seja, por essas palavras, podemos entender claramente que crer em Cristo é obra de Deus. Para sermos salvos, precisamos crer, e crer é obra de Deus.

Os defensores da salvação pela decisão e vontade própria do homem gostam de citar o versículo 12 (última parte) do capítulo 2 de Filipenses: “operai a vossa salvação com temor e tremor”. (Outras versões em lugar de operai diz desenvolvei). Mas os que citam esta passagem isolada, dando ênfase ao operai a vossa salvação, como se fosse obra do homem, dificilmente avançam na leitura, esquecendo o versículo seguinte, 13, que esclarece: “Porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”.Crer em Cristo para salvação é obra de Deus, e Deus opera no homem o querer e o efetuar, segundo a vontade de Deus, e não segundo a vontade do homem.
“Porque diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e terei compaixão de quem me aprouver ter compaixão”. (Romanos 9:15). Ou seja, Deus estende sua misericórdia sobre aqueles a quem Ele decide fazer isso. Portanto, o homem não tem mérito nenhum ao ser alvo por essa misericórdia.
Consideremos as palavras de João Batista: “João respondeu e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu”. (João 3:27). Atentemos com atenção para as palavras “o homem não pode”, visto que é mais comum ouvir-se dizer: “Deus não pode”.

“Deus não pode”
“Deus não pode fazer nada se o homem não consentir” – dizem. Essa conclusão é tirada da compreensão errada de algumas passagens da Bíblia. Uma delas é a do jovem rico, que não seguiu a Cristo porque tinha muitos bens:
“E o jovem, ouvindo essa palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse, então, Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no Reino dos céus. E outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no Reino de Deus”. (Mateus 19:22-24).
Até aqui o tema é desesperador. Mostra o homem na sua incapacidade, na sua impossibilidade de salvação. Foi o que os discípulos de Jesus sentiram. Mas Jesus não disse: “É isso mesmo, se o homem não quiser, Deus nada pode fazer por ele”.
“Os seus discípulos, ouvindo isso, admiraram-se muito, dizendo: Quem poderá, pois, salvar-se?” (verso 25).
“E Jesus, olhando para eles, disse-lhes: Aos homens é isso impossível, mas a Deus tudo é possível”. (verso 26).
Jesus não disse que é impossível aos ricos se salvarem. Disse que aos homens é isso impossível. Seja rico ou não, ao homem é impossível se salvar. Mas o que é impossível ao homem é perfeitamente possível para Deus. Jesus disse: “A Deus tudo é possível”.
Quando o anjo anunciou a Maria que dela nasceria o Salvador, ela ficou perplexa e perguntou: “Como se fará isso, visto que não conheço varão?” (Lucas 1:34). “E, respondendo o anjo, disse-lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus. E eis que também Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril. Porque para Deus nada é impossível”. (Lucas 1:35-37).
Quase as mesmas palavras foram ditas por Cristo, muito tempo antes do seu nascimento, quando apareceu a Abraão, acompanhado por dois anjos, em forma humana. Foi dito que Sara, esposa de Abraão, teria um filho. Sara, além de estéril, estava em idade avançada, por isso riu ao ouvir que seria mãe. “Assim, pois, riu-se Sara consigo, dizendo: Terei ainda deleite depois de haver envelhecido, sendo também o meu senhor já velho? E disse o SENHOR a Abraão: Por que se riu Sara, dizendo: Na verdade, gerarei eu ainda, havendo já envelhecido? Haveria coisa alguma difícil ao SENHOR?” (Gênesis 18:12-14).
Não, não existe nada, absolutamente nada, difícil ou impossível para Deus. Não devemos limitar o poder de Deus por nossa acanhada idéia de salvação. Se a própria Palavra de Deus diz que tudo é possível para Deus, e nada lhe é impossível, então, não podemos dizer que em certas circunstâncias Deus nada pode fazer. Deus fez com que no ventre de uma jovem virgem, sem nenhuma interferência humana, fosse gerada uma criança. Não dependeu da vontade do homem, mas de Deus. Assim também os que são gerados novas criaturas, que a Bíblia chama de novo nascimento, regeneração, ressurreição, não são pela vontade do homem, mas do Espírito de Deus.
“Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome, os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus”. (João 1:12, 13).
Alguns querem dar às palavras: a todos quantos o receberam, o sentido de decisão própria do homem, ou seja, a parte do homem em ir a Cristo, de crer em Cristo, independentemente da interferência de Deus. Mas isto é incoerente com o restante do texto, pois diz: os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
Podem ainda argumentar que nasceram da vontade de Deus, depois que foram a Cristo. Mas Jesus diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia”. (João 6:44). “E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido”. (João 6:65).
Não é Deus que não pode salvar o homem incondicionalmente. O homem é que não pode ir a Cristo para se salvar sem que Deus o envie.
“Todo o que o Pai me dá virá a mim;” – disse Jesus – “e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. (João 6:37).
Assim quando lemos o convite de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”, (Mateus 11:28), entendemos que só aqueles que o Pai dá a Cristo é que vão a Ele.

“Deus não força ninguém”.
É comum ouvirmos essa frase pelas pessoas que acreditam na salvação pela vontade do homem. Ainda que Deus não força no sentido que entendemos o que seja forçar, entretanto Ele usa poder para conversão dos seus escolhidos. É falta de bom senso imaginar Deus segurando uma pessoa, e contra a vontade dela, empurra-la para dentro do céu. Talvez essa seja a idéia dos que dizem “Deus não força ninguém”.Mas será que há pessoa verdadeiramente convertida que possa dizer: “Deus não usou nenhum poder para me converter!?” Conforme escreveu o apóstolo Paulo na carta aos Efésios, os que crêem em Cristo, crêem “segundo a operação da força do seu poder” (Efésios 1:19). Na mesma epístola, no capítulo 3 verso 7, o apóstolo diz que foi feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder. Ninguém melhor do que Paulo para entender dessa forma, dada a experiência, podemos dizer violenta, de sua conversão. Paulo, que então se chamava Saulo, foi, literalmente, lançado ao chão quando Cristo veio a ele. É bom lembrar que Paulo nunca buscou a Cristo para segui-lo. Ele estava perseguindo a Cristo, nas pessoas dos cristãos, e Cristo veio a ele, lançou-o ao chão e ainda tirou-lhe temporariamente a visão. Nem todos têm, ou necessitam ter, a mesma experiência de Paulo, mas em cada conversão, ou novo nascimento, faz-se atuante o poder de Deus, de uma forma ou de outra.
A conversão de Saulo é uma demonstração clara não só do poder de Deus, mas de sua soberania. O barro nas mãos do oleiro. Matéria inerte, sem vontade própria, ilustra a condição do pecador antes da operação da graça. O barro não decide que tipo de vaso deseja ser. Está nas mãos daquele que é Soberano e faz todas as coisas segundo Seu propósito. “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:21).
Aqueles que se sentem na obrigação de pregar o evangelho ficam tão ansiosos para que o pecador ainda não convertido, e relutante, tome a decisão e venha para a igreja, que enfatizam no apelo: “A decisão é sua”. “Se você não tomar a iniciativa Deus não pode fazer nada”. “Deus não vai forçar você. Ele já fez a parte Dele, agora tudo depende de você”. E o pecador se sente mais perdido ainda, porque não vê em si mesmo força para tomar uma decisão. Entende, como lhe foi ensinado, que Deus já fez a Sua parte, mas não sabe como fazer a sua própria. Sente-se irremediavelmente perdido porque acredita que Deus não vai fazer mais nada por ele. Gostaria que Deus o forçasse, mas foi dito que “Deus não força ninguém”.
Os que defendem a idéia de que Deus não força ninguém, assim o fazem porque acreditam que tais pessoas ficariam magoadas ao se verem convertidas e salvas quando isso não desejavam. Mas não encontramos nenhuma passagem do apóstolo Paulo se queixando de ter sido chamado e usado por Deus da forma como foi. Ele reconhece que sua conversão não dependeu da sua própria vontade, mas da vontade de Deus. Declarou escrevendo aos Gálatas: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou e me chamou pela sua graça...” (Gálatas 1:15). Ao dizer que aprouve a Deus, significa que foi Deus quem decidiu, foi a vontade soberana de Deus sobre ele (Paulo). E para não deixar dúvidas sobre sua total isenção e incapacidade, afirma o apóstolo, no mesmo texto, que Deus o chamou pela sua graça, quando ainda era um ser sem conhecimento de qualquer coisa, no ventre de sua mãe.
As cartas do apóstolo Paulo dirigidas aos Coríntios (1ª e 2ª), aos Gálatas, aos Efésios, ao Colossenses, a Timóteo (1ª e 2ª); todas estas têm no seu prefácio e saudação as seguintes palavras: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus...”
Sem idéias extremadas, de uma parte e de outra, devemos entender corretamente a maneira de Deus “forçar”, expressão encontrada, em pelo menos, uma das parábolas de Jesus. Registrada por Lucas, no capítulo 14, versos 15-24, a parábola da grande ceia ilustra o evangelho, a salvação. Jesus conta que um homem preparou uma grande ceia e convidou a muitos. Mas os convidados não compareceram, porque estavam ocupados em seus próprios interesses. Então, aquele pai de família, o senhor que estava oferecendo a grande ceia, manda que seu servo saia pelas ruas e convide os pobres, aleijados e cegos. Assim foi feito, mas ainda havia lugar na casa. Porém, aquele senhor queria ver a casa cheia, e mandou que o servo fosse pelos caminhos e atalhos. Diz: “Sai pelos caminhos e atalhos e força-os a entrar, para que a minha casa se encha”. (Lucas 14:23).
O que Jesus quis ensinar com essa parábola? Que o pai de família, que representa Deus, é arbitrário, forçando pessoas a comparecer a um banquete contra a própria vontade? Não, de maneira nenhuma! Cristo mostrou nessa parábola, que Deus cumpre a sua vontade, o seu propósito, independentemente do querer do homem. A vontade daquele pai de família era ver a casa cheia. Ele sabia que isso era bom para os convidados, mas estes não tinham conhecimento disso, nem os primeiros nem os últimos. Senão não teria dito: “força-os a entrar”.
Mas alguém, no zelo pela liberdade do homem, na defesa do seu “livre arbítrio”, como se isso fosse realmente importante, principalmente com relação a Deus, poderá dizer: “Como pode Deus forçar a consciência do homem? Violar aquilo que é mais sagrado: sua liberdade, seu direito de escolha?” A esse argumento podemos responder como disse Jesus: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus”. (Mateus 22:29).


“Livre Arbítrio”
O livre arbítrio é defendido como algo mais valioso do que tudo. É colocado acima da livre graça de Deus, de Sua soberania, de Seu direito de escolha, de decidir sobre Suas criaturas. De nada serve a salvação se não for o resultado do “livre arbítrio”. Pobres mortais iludidos, que se enganam a si próprios! Desde que tenham livre arbítrio, preferem estar de posse de uma falsa jóia, uma peça de vidro sem valor, do que de um puro diamante. De que vale esse alardeado “livre arbítrio” se, com ele, o homem segue para o fogo do inferno?
O que é mais espantoso é a incoerência nos que defendem com unhas e dentes o livre arbítrio. Eles mesmos nem acreditam nisso. É como se eles quisessem e não quisessem ao mesmo tempo que Deus governe suas vidas. Eles não querem que Deus decida por eles. Mas quando uma jovem ou um jovem, cristãos, pensam em casar, por exemplo, acredita e diz que é Deus quem vai escolher, ou já escolheu, o seu consorte. Não seria isso negar o seu direito de escolha? Não seria isso cercear o seu tão acariciado livre arbítrio? Negar essa teoria tão bem defendida? Dizem, então, para justificar essa incoerência: “Deus escolhe se a pessoa permitir”. Nem compreendem o absurdo dessas palavras, a extensão de profanação de Deus nelas embutidas.
A popularização do evangelho, o modernismo introduzido nas religiões, o sistema de igrejas-empresas, tornou Deus mero coadjuvante, ou espectador passivo, que atua apenas se o homem “permitir”.

Mas Deus não necessita de “permissão” do homem para fazer o que planejou.

“Minha é a prata, e meu é o ouro, disse o SENHOR dos Exércitos”. (Ageu 2:8).
“Se eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e a sua plenitude”. (Salmo 50:12).
“Que anuncio o fim desde o princípio e, desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade”. (Isaias 46:10).
De acordo com o que escreveu o apóstolo Paulo aos Romanos, o homem só tem inclinação para o mal e não para o bem. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser”. (Romanos 8:7). Nesse caso, pelo livre arbítrio, que é uma ação livre do homem, sua própria iniciativa, para onde se inclinaria toda a humanidade? Podemos responder com segurança: para a morte. “Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz”. (Romanos 8:6).
Ao dizer que a “inclinação do Espírito é vida e paz”, o apóstolo está afirmando que o homem que tem o Espírito de Deus, inclina-se para a vida e a paz, ou seja, para as coisas de Deus. Mas esse Espírito é algo que o homem não tem de si mesmo, nem te-Lo depende de sua própria iniciativa, pois “a inclinação da carne é inimizade contra Deus”. Conceder o Seu Espírito ao perdido pecador é uma prerrogativa de Deus, e Ele o faz pela Sua infinita misericórdia e pelo Seu propósito, sem que haja qualquer mérito da parte humana. É uma livre ação de Deus, e não do homem. “E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”. (Ezequiel 36:26 e 27).
Se dependesse do “livre arbítrio” o homem jamais se livraria do coração de pedra, jamais poderia ter o Espírito de Deus a guiar-lhe os passos.
Por não compreender essa verdade tão preciosa, que só exalta Deus, Sua soberania e poder, alguns no desespero de defender sua preciosa e inviolável liberdade de escolha, replicam: “Então somos um fantoche nas mãos de Deus?”
Talvez sejamos menos que um fantoche, somos apenas barro. A Bíblia não diz que somos um boneco nas mãos de Deus, mas diz que somos barro. Uma massa de barro informe parece mais com uma coisa inanimada do que um boneco de pano. Mas um fantoche nas mãos de quem o manipula, continua sendo apenas um boneco. O barro nas mãos do Criador é transformado naquilo que Ele decide que assim seja. Paulo escreveu a respeito daqueles que não entendem essa verdade: “Dir-me-ás, então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade? Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Romanos 9:19-21).
“Então, não há nenhuma liberdade no homem?” – perguntam outros. Sim, existe uma liberdade na esfera humana decretada por Deus. Tanto nos salvos como nos perdidos. Consideremos primeiro uma pessoa justificada pela fé, chamada por Deus para a salvação. Essa pessoa, segundo o apóstolo Paulo, estava morta em ofensas e pecados, e foi vivificada, ressuscitada com Cristo (Efésios 2:1, 5). Na carta aos Colossenses, o mesmo apóstolo diz: “Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus”.(Colossenses 3:1, 2). Por que ele diz: “se já ressuscitastes?” Com isso ele está ensinando claramente que os que ressuscitaram com Cristo, que foram vivificados, buscam as coisas que são de cima, pensam nas coisas que são de cima e não nas que são da terra. É uma ação da livre vontade de quem não está morto, pois ressuscitou com Cristo. Na igreja, em todas as épocas, existem pessoas convertidas e não convertidas. Não foi diferente nos dias de Paulo. E em sua sábia exortação, sem querer julgar ninguém, ele diz: “se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima”. Na mesma linha de pensamento ele diz: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor”; (Filipenses 2:12 – versão atualizada) e o apóstolo Pedro fala: “crescei na graça”. (2 Pedro 3:18). Desenvolver, crescer, naquilo que já recebeu – a salvação, a graça. Uns desenvolvem mais e outros menos, uns crescem mais na graça e outros menos, tudo dependendo de sua liberdade, circunstâncias, ou mesmo condições físicas e intelectuais. Mas ninguém é salvo por desenvolver mais ou perdido por desenvolver menos. “E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta”. (Mateus 13:8).
Agora vamos pensar no ímpio, no que não tem o conhecimento da salvação. Ele não tem nenhum poder de si mesmo de libertar-se do pecado e se salvar. Nesse sentido ele está morto em ofensas e pecados. Mas uns praticam mais crimes ou menos crimes do que outros. Um homem que não crê em Deus nem sente necessidade de Cristo, pode pagar os seus impostos e cumprir todos os deveres de um cidadão. Ele faz isso para ser admirado e respeitado pelos outros. Outros sonegam impostos, ou, deliberadamente cometem outros crimes. Dentro dessa liberdade, de homem espiritualmente morto, ele pode cometer crimes ou não, e, mesmo não cometendo, nem por isso é um cristão. Nem por isso tem direito à salvação, a menos que a graça de Cristo o regenere. O Espírito Santo é soberano em fazer isso, e não depende nem o faz por obras do homem.
“Pode o etíope mudar a sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal”. (Jeremias 13:23).
O texto acima sugere que se não é possível ao etíope (homem de cor), ou ao leopardo, com suas manchas naturais, mudarem suas constituições, recebidas por herança, assim também o homem não pode fazer o bem sendo ensinado a fazer o mal.
O homem foi ensinado a fazer o mal pela própria natureza de pecado herdada de Adão. Nessa condição ele não sabe, nem pode fazer o bem.
Não seria exagero dizer isso, quando sabemos de tantas pessoas não cristãs, dedicadas a atos de caridade? Pessoas que criam entidades filantrópicas para cuidar de órfãos e idosos? Os atos dessas pessoas estariam contradizendo a Palavra de Deus? Ou elas são salvas por realizarem essas boas obras, mesmo não crendo em Cristo como seu salvador? Não. A Palavra de Deus é a Suprema Autoridade, e não pode ser contraditada. Nela encontramos respostas para todas as questões.
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só”. (Romanos 3:10-12).
“Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade”. (Mateus 7:22, 23).
Diz ainda o apóstolo Paulo: “E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me aproveitaria”. (1Coríntios 13:3).
A palavra caridade significa amor. E o apóstolo Paulo também afirma que o cumprimento da lei é o amor (Romanos 13:10). Ou seja, a lei se cumpre com amor, que não é inerente ao homem, pois é um atributo divino. O homem não regenerado, não vivificado pela graça (Efésios 2:1-5), é inimigo de Deus e de sua lei (Romanos 5:10; 8:7). Quando Deus, pela Sua misericórdia e graça, salva o homem do pecado (Mateus 1:21), implanta no coração do homem um novo princípio, resultado da ressurreição espiritual (Efésios 2:5 e 10): Amor a Deus e ao próximo. “Porque este é o concerto que, depois daqueles dias, farei com a casa de Israel, diz o Senhor: porei as minhas leis no seu entendimento e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo”. (Hebreus 8:10). Aqui a ação é de Deus, e não do homem. Deus diz: “Farei... porei... escreverei...” (No entendimento e no coração do homem). Sem isso, toda aparente boa ação do homem, todo ato de justiça praticado são considerados como trapo de imundícia (Isaías 64:6).
Ao dizer Cristo: “Nunca vos conheci, apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade (Mateus 7:23), respondendo às pessoas que em Seu nome afirmam terem profetizado, expulsado demônios e feito muitas maravilhas, Jesus estava dizendo que mesmo praticando essas pretensas boas ações eles permaneciam no pecado, que é iniqüidade, que é a transgressão da lei. (1João 3:4).
Em defesa do livre arbítrio – a capacidade e poder do homem em escolher salvar-se ou não, são exaustivamente citadas as seguintes passagens da Bíblia:
“Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua semente”. (Deuteronômio 30:19).
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo”. (Apocalipse 3:20).
As palavras em Deuteronômio 30:19 podem ser corretamente compreendidas ao lermos o versículo 6 do mesmo capítulo: “E o Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua semente, para amares ao Senhor, teu Deus, com todo o coração e com toda a tua alma, para que vivas”. Só escolhem a bênção e a vida, aqueles cujos corações foram circuncidados por Deus. Notemos que Deus não circuncidará o coração por eles amarem a Deus, mas para amares ao Senhor, teu Deus. Só assim eles podiam escolher servir a Deus.
Palavras semelhantes encontramos no livro de Ezequiel:
“E lhe darei um mesmo coração, e um espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra e lhes darei um coração de carne”. (Ezequiel 11:19).
“E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis”. (Ezequiel 36:26 e 27).
Escolhem servir a Deus aqueles cujos corações de pedra foram trocados (por Deus) por um coração de carne, que significa o mesmo que um coração circuncidado; aqueles em quem Deus pôs o Seu Espírito.
Deus adverte, ameaça e faz apelos para que o homem se converta e obedeça, como se o homem tivesse de fazer por sua própria conta e, na Sua infinita misericórdia, cria as condições, dando um coração novo e o poder do Seu próprio Espírito para que isso aconteça.
Cristo fez o convite: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei”. (Mateus 11:28). E ao mesmo tempo ele diz: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último Dia”. (João 6:44 e 65).

“Eis que estou à porta e bato”.
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo”. (Apocalipse 3:20).
Esta passagem pode ser comparada como uma tecla gasta de tanto ser usada em sermões e estudos. E a lição ensinada, ao mencionarem esse texto é esta: “Cristo não entra se você não abrir a porta, pois Ele não força entrada”. A intenção ao apresentarem esse verso é sustentar a idéia de que Cristo ou Deus, nada pode fazer pelo homem se ele não abrir o coração. O homem tem poder de abrir ou não o seu coração - dizem. E esse poder se sobrepõe à vontade de Deus. Então, na salvação, o homem reserva para si pelo menos um mérito: Abrir a porta do coração. É como se ele dissesse: “Cristo morreu para me salvar. Fez um grande sacrifício. Fez a parte mais importante, é verdade, mas se eu não abrisse meu coração de nada teria adiantado”. Essa pretensa capacidade do homem de abrir o coração torna-se mais importante até mesmo do que o grande sacrifício de Cristo na cruz do Calvário. Mesmo afirmando que é salvo pela graça, reserva para si, de forma sutil e, talvez, até mesmo inconsciente, um mérito. Mas o que diz a Palavra de Deus?
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. (Efésios 2:8 e 9).
Ao dizer: “Não vem de vós, é dom de Deus”, significa que é uma dádiva de Deus, que Ele dá a quem quer, pela Sua misericórdia, e não depende da vontade ou de algum mérito do homem.
“Pois assim como o Pai ressuscita os mortos e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer”. (João 5:21). Cristo vivifica aqueles que Ele quer vivificar.
Pode o etíope mudar a sua pele? Não. Pode um morto abrir porta? Claro que não. Então como entender: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e com ele cearei, e ele, comigo?” (Apoc. 3:20). Da mesma forma que entendemos as seguintes palavras de Cristo: “Não vos maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz”. (João 5:28). Como os mortos poderão ouvir a voz de Cristo? Eles só poderão ouvir a Sua voz, se Cristo lhes der vida para isso. Alguém poderá afirmar que um morto ressuscitou por vontade própria, independentemente da operação do poder de Deus? Ou que, pelo menos, houve a cooperação do morto, unindo sua vontade de ressuscitar com o poder de Deus? Seria um absurdo dizer isso. Um morto não tem vontade própria. “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco eles têm jamais recompensa, mas a sua memória ficou entregue ao esquecimento. Até o seu amor, o seu ódio e a sua inveja já pereceram e já não têm parte alguma neste século, em coisa alguma do que se faz debaixo do sol”. (Eclesiastes 9:5 e 6).
O apóstolo Paulo diz que todos nós, antes de sermos vivificados por Cristo, estávamos mortos em ofensas e pecados. “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados... estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele...” (Efésios 2:1, 5 e 6).
Somente Cristo tem poder em Si mesmo de entregar a Sua vida e tornar a tomá-la.
“Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a toma-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a toma-la. Esse mandamento recebi de meu Pai”. (João 10:17 e 18).
O homem não pode ter vida por sua própria decisão e vontade; não há nele poder inerente para isso. “João respondeu e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se lhe não for dada do céu”. (João 3:27). E Cristo disse: “Sem mim nada podereis fazer”. (João 15:5).
Entretanto, é necessário abrir a porta do coração para que Cristo entre. Sim, a porta precisa ser aberta, mas você está morto. Ninguém melhor do que Deus sabe disso. Ele, então, abrirá os nossos corações. Jesus afirmou: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último Dia”. (João 6:44).
Você não acredita que foi Ele que abriu o seu coração para que entendesse a verdade, e recebesse Cristo como seu Salvador? Que Deus lhe levou a Cristo, estando você perdido, sem rumo nem direção?
“E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia”. (Atos 16:14).
Vemos no relato bíblico que aquela mulher servia a Deus, mas por certo ainda não tinha ouvido falar de Cristo. Se Deus abriu o coração dela, que já tinha algum conhecimento, não abriria muito mais o de outros na total ignorância no que diz respeito à salvação? Mas Deus faz isso segundo o seu propósito. Não podemos questionar o SENHOR por não abrir o coração de todas as pessoas. “Quem és tu, que a Deus replicas?” (Romanos 9:20); como não podemos questionar, replicar a Deus, por Ele ter endurecido o coração de Faraó. O apóstolo Paulo falando sobre esse assunto diz: “Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer”. (Romanos 9:18).
O ensino e as pregações modernizadas, para se adaptarem ao gosto e a idéias preconcebidas da grande maioria, seguem a linha de pensamento segundo o qual a Bíblia diz uma coisa, mas significa outra. E isso, mesmo não se tratando de linguagem figurada. Acha-se um meio de suavizar, para não dizer deturpar, o texto bíblico, dando um sentido que parece mais aceitável.
Muitos pregadores “modernos” dizem: “Deus não endureceu o coração de Faraó”. Eles acham que dizendo isso estão agradando a Deus. Defendendo Deus, como se fosse Seu advogado. Imagino Deus, lá no Céu, retrucando: “O que você está dizendo? Claro que fui Eu! Nunca leu o que meu servo Moisés escreveu sobre isso?”
Só no livro do Êxodo encontramos dez referências onde Deus declara ter endurecido o coração de Faraó. (Êxodo 4:21; 7:3; 9:12; 10:1, 20, 27; 11:10; 14:4, 8, 17). E o grande pregador (Paulo) não dá um sentido diferente na carta aos Romanos: “Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer”. (Romanos 9:17 e 18).

Muito mais ainda se pode dizer sobre salvação Pela Graça Somente, pois todo o conteúdo das Escrituras é repleto desse tema tão maravilhoso, onde somente exalta a soberania e o poder de Deus em todo o plano da salvação, e do Seu relacionamento com a humanidade. O meu sincero desejo é que esta pequena e humilde preleção sirva de estímulo ao leitor, levando-o ao maior interesse no tema, e que faça da Bíblia Sagrada a única fonte onde a água da vida possa ser encontrada.
Que a Graça de nosso Senhor Jesus Cristo opere nos corações ansiosos pela Verdade. Amém!