sábado, 25 de abril de 2009

CRENTE E INCRÉDULO


NEM sempre deixar de crer em alguma coisa significa ser “incrédulo” no sentido espiritual. E pode ser exatamente o contrário – quem mais acredita em muitas coisas, são, invariavelmente, os mais incrédulos. Para os católicos, não crer na virgem Maria, nas imagens de escultura, na infalibilidade papal, nos sacramentos da igreja, significa ser incrédulo; para o verdadeiro cristão, significa ser crente.

Assim era também com os fariseus e sacerdotes nos dias de Cristo. Eles acreditavam em tantas coisas, impunham ao povo aquelas crendices, julgavam e condenavam aos que desobedeciam, que se tornaram, em vez de homens de Deus, juízes, déspotas e tiranos – e descreram em Jesus como Filho de Deus, muito embora dissessem que esperavam a vinda do Messias.“Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homem” (Mateus 15:9) – disse Jesus.

Para os fariseus e sacerdotes, alguém não crer em suas doutrinas era o mesmo que ser incrédulo. Se alguém fosse seguidor de Jesus não era visto com bons olhos. “Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele és tu; nós porém, somos discípulos de Moisés”. (João 9:28) – Disseram eles, com indignação e orgulho, ao que lhe perguntara se eles também queriam fazer-se discípulo de Jesus.

Pode parecer incrível, mas hoje, em certas corporações religiosas, mesmo com todo o desenvolvimento que o homem alcançou, se alguém disser que crê somente em Deus, em Jesus Cristo e na sua Palavra – a Bíblia – será considerado como incrédulo. Ou, talvez, no mínimo, uma pessoa de crença duvidosa.

A verdade, mesmo que pareça paradoxal, é que, para se tornar um verdadeiro crente, é necessário descrer. Descrer do amontoado de doutrinas inventadas, dogmas, interpretações fantasiosas, guias espirituais, videntes, profetas... Conforme é dada a advertência na Palavra de Deus: “Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).

Se crer é um dom, descrer também é. E, em alguns casos, descrer pode ser mais difícil do que crer. As injunções religiosas, o medo implantado, o juízo temerário dos guias religiosos, impedem que seus adeptos sejam livres para um conhecimento e aceitação da verdade pura contida nos Evangelhos. Há que se admitir uma profundidade de sentido nas palavras de Cristo: “... e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (João 8:32). E ainda: “Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada”. (Mateus 15:13).

A libertação que Jesus prometera aos que conhecessem a verdade significa libertação do pecado, dos falsos ensinamentos e dos falsos guias. A planta que será arrancada é toda doutrina que não tem sustentação na Palavra de Deus.

Assim, aquele que ama a Verdade, muitas vezes, em certas circunstâncias, tem que desaprender para aprender. Desacreditar para acreditar. Se tornar “incrédulo” para ser um verdadeiro crente.